terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Hoje queria vomitar o tempo

Passa o tempo devagar
naquele relógio que aparafusei na cabeça
e nada sei ainda!
Então pergunto sem cessar
Se estou certa...
Se este medo tem alguma razão de ser...
Se estas lágrimas ainda fazem algum sentido.
Depois lembro-me dos sorrisos
que já galoparam em cima dos ponteiros
quando os sonhos tinham o aroma dos nossos passos
e não encontro motivos
para que a areia hoje esteja assim tão salgada.
Já nem vejo o mar à minha frente
porque agora os meus olhos
preferem a melancolia de um rio
para pintarem tranquilamente o seu pranto...
Então, porque sabem a sal os meus dedos?
Estou enjoada...
E sempre que os meto à boca,
apetece-me vomitar com esta caneta seca
todas as palavras salgadas
que me dão a volta ao estômago,
porque este silêncio amargo e doce dá-me vómitos.

Daniela Pereira in Afectos Obsessivos

Foto de Nuno Reis-http://www.noir-sur-blanc.blogspot.com/

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Prefácios-Quando duas mãos amigas despem a poetisa e revelam a mulher

Aqui deixo os prefácios escritos por dois amigos tão especiais para mim...e que aceitaram o desafio de colocar a mulher e a poetisa nos seus dedos para darem um toque intimista às primeiras páginas do livro Afectos Obsessivos

Prefácio escrito pela mão de Pedro Correia:

A escrita tem o dom de nos fazer transportar para outros mundos. Por vezes utópicos e irreais, outras vezes concretos. Mas é à poesia que cabe o papel de percorrer as nossas veias e reverberar na nossa mente durante muito tempo. Conheci a Daniela há uns anos, através de um portal de... poesia, pois claro. Logo me chamou a atenção a sua es- crita cativante e lancinante. Queria conhecer a autora de tão belos poemas. Queria conhecer o rosto por detrás de palavras pintadas a cor de poesia. Quando a Daniela me convidou para ser o autor do prefá- cio do seu segundo livro (a sua estreia foi com Cortar as palavras num só golpe, que recomendo vivamente), apoderou-se de mim uma satisfação imensa, mas, ao mesmo tempo, alguma apreensão. Satisfação, porque não é todos os dias que somos convidados a es- crever o prefácio de um livro, muito menos se esse convite parte de uma amiga. Apreensão, porque não sabia se teria capacidade suficiente para figurar numa obra poética de tamanha beleza. Aceitei por ser um grande desafio, mas, principalmente, por poder fazer parte de uma obra da escritora e amiga Danie- la Pereira. Mas o que terá de tão cativante a sua poesia? Ela não se amarra aos ditames ditos legais de um poema. Não. Ela sim- plesmente torna selvagem a sua caneta e solta o infinito génio que tem dentro de si. Quando tive o privilégio de conhecer a autora dos be- líssimos versos que vai poder ler mais à frente, percebi porque escrevia ela desta maneira. A Daniela é uma pessoa de uma grande dimensão, de uma grande sensibilidade perante tudo o que a rodeia. E só assim é possível transmitir por palavras aquilo que sente. Mas a melhor forma de entender a grandeza literário-po- ética da Daniela Pereira, é sugar cada palavra de cada verso deste livro. Quando terminar de ler vai ver que descobriu uma parte do seu mundo. Mas para continuar com essa descoberta, terá que reler novamente os poemas. O nosso cérebro agrade ce.

Pedro Correia

Prefácio escrito pela mão de António Vieira:

A escrita de Daniela Pereira agarra o leitor, prendendo-o ao misto de doçura e azedume que conjuga na sua obra, conseguin- do mesmo combinar pólos opostos num mesmo pedaço da sua arte. À imagem depressiva de uns, sucede a fúria tempestuosa de outros. Exteriorização perfeita de um vulcão mágico de emoções que a autora contém ab imo corde e que se libera na escrita. E é magia aquilo que lhe escapa dos dedos e mente, colo- rindo o papel com esses lápis de cores variadas, que muitas vezes se anulariam à luz do mundo normal, mas não do mundo de Daniela, um universo rico onde a magia não provém da rima fá- cil, mas sim precisamente do desregramento e originalidade da fórmula; quase se poderia dizer que por vezes estamos perante uma Florbela Espanca caótica, dadas algumas temáticas por si abordadas, mas a semelhança ficar-se-á somente por aí. O imaginário é assim exposto no papel, literalmente, ta- manha a quantidade de imagens pulsantes e incomuns que pu- lulam aos nossos olhos quando percorremos a obra de Daniela, conferindo propriedades esotéricas a objectos do nosso quoti diano, dando-lhes uma beleza quase alienígena, estranha aos olhos de muitos e por vezes incompreendida; mais uma prova cabal da autenticidade da autora.

António Vieira
Textos editados no livro Afectos Obsessivos Direitos Reservados

O Livro Afectos Obsessivos

Nascida no dia 27 de Junho de 1975, a escritora Daniela Pereira deu os seus primeiros passos na bela cidade de Ovar. Uma terra que funde o mar e a folia dos corpos num azulejo de parede pintado em tons de azul e branco. Como não aprecia a seriedade que existe na realidade dos dias é com orgulho que afirma ser uma sonhadora convicta. Impelida por emoções fortes e sentimentos exacerbados encontrou na liberdade dos versos o eco dos seus gritos. Com poemas onde os seus desejos surgem abraçados a metáforas e palavras sombra, surge a sua primeira obra, o livro Cortar as Palavras num Só Golpe. Um livro lançado em 2005 pela chancela da Corpos Editora e que tem como especial recomendação uma leitura feita num só fôlego. Neste seu segundo trabalho, o livro “Afectos Obsessivos” .... As palavras são revoltadas e como revoltadas que são…gritam com toda a intensidade a sua vontade imensa de mudar a insensibilidade do mundo. Os poemas explodem aleatoriamente no papel num misto de cores e cinzentismos aparentes… umas vezes sussurrados e obcecados pelo egoísmo dos corpos , outras vezes atrevem-se a romper os limites do peito e a alma obsessiva da poesia funde-se com a prosa murmurada aos pedaços. São sussurros e poesia… Uma mistura forte e que arde insistentemente no fundo da garganta ...

Não existe mais nada neste quarto que deixei em chamas... Nada mais escuto agora que a noite se deitou em mim...

Só estes sussurros que escapam da minha boca tentados pela poesia que declamas com o teu corpo...

Daniela Pereira